Entrevista ONIP – Entrevista ONIP – Sérgio Bacci, Presidente da Transpetro

“Estaleiros brasileiros e setor de navipeças devem aproveitar oportunidades”

A indústria naval brasileira vive hoje um cenário de demandas contínuas que, amparado numa nova política setorial, confere aos estaleiros nacionais um grau de competitividade melhor em relação aos concorrentes internacionais. “É um momento para que os estaleiros brasileiros e o setor de navipeças se esforcem para aproveitar as oportunidades que estão sendo disponibilizadas”, avalia o presidente da Transpetro, Sérgio Bacci, com a experiência de quem foi vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (SINAVAL), sindicato associado à ONIP.

De acordo com Bacci, a indústria terá uma retomada gradual e que ainda há dificuldades a serem superadas, mas há um ambiente promissor, impulsionado pela retomada dos investimentos no setor de óleo e gás, além do potencial para expansão em segmentos como o transporte de energias renováveis e soluções marítimas sustentáveis.

“Nesse contexto, a parceria entre o setor público, a iniciativa privada e as entidades representativas, como o Sinaval e a ONIP, é fundamental para superar obstáculos e garantir a sustentabilidade e o crescimento da indústria naval brasileira nos próximos anos”, observa em entrevista exclusiva para o site da ONIP, em que fala ainda sobre os resultados positivos da Transpetro e a importância do conteúdo local para a indústria brasileira de petróleo e gás.

Quais serão os resultados da Transpetro em 2025? Em entrevista recente, o senhor comentou que a companhia deve encerrar o ano com lucro acima de R$ 1 bilhão, resultado superior ao dos últimos anos. O que está ocasionando esse resultado?

A previsão para o resultado da Transpetro em 2025 é bastante positiva e reflete nosso esforço contínuo em aprimorar a eficiência operacional e fortalecer nossa posição no mercado. Para isso, estamos realizando uma série de iniciativas estratégicas, que incluem a modernização da frota, a otimização das rotas logísticas e o aprimoramento dos processos internos, sempre com foco na sustentabilidade, na segurança e no cuidado com as pessoas. Esse pacote de ações tem diversificado nossos contratos e ampliado nossa carteira para mais de 170 clientes. A Transpetro tem conseguido capitalizar diversas oportunidades e impulsionado o setor de logística multimodal do Brasil, ao mesmo tempo em que mantém um rigoroso controle de custos e investimentos alinhados à estratégia da Petrobras. Esses fatores combinados fortalecem a geração de valor para a companhia e para o país, reafirmando o papel fundamental da Transpetro na cadeia logística do setor energético brasileiro.

Como está o programa de ampliação da frota? Qual a importância do programa para a Transpetro?

O Programa de Renovação e Ampliação da frota do Sistema Petrobras é um dos mais importantes da história da Transpetro. De forma estratégica, conseguimos atender à crescente demanda do País por energia, expandir nossa capacidade logística e impulsionar a indústria naval brasileira. Esse programa é um pilar essencial para a continuidade do desenvolvimento sustentável do Sistema Petrobras, também porque propõe uma frota moderna ao incorporar tecnologias nos navios que diminuem as emissões de gases do efeito estufa e o impacto ambiental das nossas operações.

A Transpetro já contratou quatro navios da classe Handy, que estão sendo construídos pelo consórcio formado pelos estaleiros Rio Grande (RS) e Mac Laren (RJ), e já recebeu propostas na concorrência pública para construção de oito navios gaseiros, cujo processo deve ser finalizado em breve. Além dessas aquisições, o Programa também prevê a compra de quatro embarcações de médio porte (MR1).

Até 2029, o Plano de Negócios do Sistema Petrobras, que inclui os navios de cabotagem da Transpetro, prevê a contratação de pelo menos 77 novas embarcações. São investimentos de mais de R$ 30 bilhões. Somente a Transpetro, prevê contratar mais de 20 navios para sua frota de cabotagem até 2029. Hoje, operamos 26 embarcações.

Para além da ampliação da frota, quais as principais apostas da companhia para os próximos anos?

Além da ampliação da frota, a Transpetro está focada em diversificar e fortalecer suas operações por meio de investimentos em inovação tecnológica e sustentabilidade. Estamos lançando uma nova licitação para a aquisição de 18 barcaças e 18 empurradores. A encomenda integra a estratégia da companhia de entrada no modal logístico de navegação interior para o transporte de combustíveis nos principais portos da costa brasileira. Com isso, iremos ampliar nossa oferta de serviços logísticos para transportar bunker e inaugurar futuramente novas rotas fluviais.

A companhia tem apostado na digitalização dos processos logísticos, utilizando ferramentas avançadas de análise de dados e automação para aumentar a eficiência, reduzir riscos e aprimorar a tomada de decisão, inclusive na segurança da faixa de 8,5 mil km de dutos que opera no Brasil. Investimos cerca de R$ 100 milhões por ano em tecnologia para combate às derivações clandestinas (furtos de combustíveis em dutos) com ações que incluem o monitoramento ostensivo, a aplicação de soluções de detecção avançada, equipes de campo especializadas e supervisionadas continuamente por um centro de controle dedicado à proteção de dutos.

Temos atuado no sentido para descarbonizar nossas operações, reduzindo as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE). A Transpetro já inaugurou duas usinas solares fotovoltaicas nos terminais de Guarulhos (SP) e Belém (PA), que atendem 100% de suas necessidades energéticas e reduzem mais de 276 toneladas de carbono emitidas por ano para a atmosfera. Esses projetos são modelos para expansões em outras unidades, como a do terminal de Coari (AM), que deve ser inaugurada em 2026.

Gostaria de destacar ainda que a companhia pretende ampliar em 50% a carteira de projetos socioambientais até 2030, como parte da nossa política de Responsabilidade Social. Só em 2025, devemos fechar o ano com investimento de R$16 milhões em hortas comunitárias, áreas de lazer e convênios para qualificação profissional. O nosso principal projeto de formação, o Transformar, já ofertou mais de 800 vagas, com potencial para atender até 3 mil pessoas diretamente nos próximos anos. Ao todo, nossas ações de Responsabilidade Social têm beneficiado direta e indiretamente aproximadamente 70 mil pessoas em todo o país.

Por isso, acreditamos que a Transpetro tem demonstrado o crescimento que o Brasil espera em diversas áreas, como o impulsionamento à indústria naval, o investimento em tecnologias para aplicação do próprio negócio, a redução das emissões de carbono e a compreensão de que responsabilidade social deve andar em conjunto com o desenvolvimento.

O senhor tem defendido a importância de mudar a política pública brasileira para conteúdo local na área de petróleo e gás. Em que sentido o senhor propõe essa mudança?

Sempre defendi que a política de conteúdo local no setor de petróleo e gás precisa evoluir para um modelo mais flexível e alinhado com as dinâmicas do mercado global, e o governo do presidente Lula vem fazendo isso muito bem. O governo Lula reinstituiu a política de conteúdo local, criou o mecanismo da depreciação acelerada para os navios tanques e gaseiros e voltou a aprovar projetos com financiamento do Fundo de Marinha Mercante.

No ano passado, o Fundo aprovou mais de R$ 30 bilhões para financiamentos de 430 projetos, entre construção de embarcações, reparos navais e obras portuárias. Foi o maior montante anual desde 2012. Neste ano, o Fundo já aprovou mais R$ 22 bilhões em financiamentos para o setor naval. Esse resultado evidencia a importância do papel do Estado para o desenvolvimento saudável desse setor.

É importante aqui frisar que essa não é uma visão ideológica, basta olhar ao redor do mundo onde a indústria naval é pujante. Tudo isso demonstra que estamos vivendo um momento promissor e histórico. Neste ano, promovemos uma aproximação entre estaleiros brasileiros e chineses, após visitas bilaterais. Agora no início de outubro, também estivemos na Bahia com o presidente Lula e a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, quando destacamos a perspectiva de que parte dessas encomendas de embarcações para renovação da nossa frota seja assumida por estaleiros locais, com geração de empregos diretos, indiretos, e qualificação de mão de obra.

O senhor foi vice-presidente executivo do Sinaval, sindicato associado à ONIP. Qual o balanço que o senhor faz da indústria naval brasileira hoje? Qual o cenário atual?

A indústria naval brasileira passou por importantes avanços nas últimas décadas, consolidando-se como um setor estratégico para o desenvolvimento econômico e para a cadeia produtiva do petróleo e gás. Durante meu período como vice-presidente executivo do Sinaval, tive a oportunidade de acompanhar de perto os desafios e as conquistas desse segmento, que tem se destacado pela capacidade de inovação e pela busca constante por maior eficiência e sustentabilidade. Hoje, a indústria naval brasileira conta com estaleiros modernos e uma base tecnológica que permite a construção e manutenção de embarcações que atendem aos padrões internacionais de qualidade e segurança.

Temos hoje um cenário de demandas perenes para a indústria, que está amparado numa nova política setorial, que dá aos estaleiros nacionais um grau de competitividade melhor em relação aos concorrentes internacionais. É um momento para que os estaleiros brasileiros e o setor de navipeças se esforcem para aproveitar as oportunidades que estão que estão sendo disponibilizadas.

Sabemos que a indústria terá uma retomada gradual e que ainda há dificuldades para serem superadas, mas há um ambiente promissor, impulsionado pela retomada dos investimentos no setor de óleo e gás, além do potencial para expansão em segmentos como o transporte de energias renováveis e soluções marítimas sustentáveis.

Nesse contexto, a parceria entre o setor público, a iniciativa privada e as entidades representativas, como o Sinaval e a ONIP, é fundamental para superar obstáculos e garantir a sustentabilidade e o crescimento da indústria naval brasileira nos próximos anos.