Editorial ONIP – Outubro 2025

Novas fronteiras e o futuro da segurança energética

O cenário atual do setor de óleo e gás é marcado por contrastes. De um lado, a percepção de um excesso de oferta no curto prazo, que pressiona preços e estimula a leitura de que o setor vive um momento de saturação. De outro, importantes operadores globais vêm chamando a atenção para um risco crescente de escassez estrutural de suprimento nas próximas décadas, caso os investimentos em exploração e produção continuem em queda.

O alerta é de que, sem reinvestimentos adequados, os poços de petróleo e gás sofrem declínio natural de até 15% ao ano. Desde 2020, o capex global tem ficado muito abaixo do necessário para repor reservas e manter a produção em equilíbrio com a demanda. Mesmo em cenários compatíveis com a transição energética e as metas de descarbonização, as projeções indicam que o mundo ainda demandará mais de 65 milhões de barris por dia até 2050.

A mensagem é clara: a aparente folga atual não deve mascarar o risco de insuficiência futura. A escassez pode ser um dos grandes desafios da próxima década se o ritmo de reposição de reservas e novos projetos não for retomado.

Enquanto o debate global se concentra nessa possível lacuna de oferta, a movimentação internacional mais recente reforça o potencial das novas fronteiras exploratórias. A Chevron iniciou a perfuração do poço Korikori-1, localizado a aproximadamente 78 km da costa, em águas rasas do Bloco 5 da Margem Equatorial do Suriname, em consórcio com a Paradise Oil Company (40%) e a Qatar Energy (20%).

Esse avanço confirma o interesse internacional crescente pelas bacias do Atlântico Sul e indica que a Margem Equatorial desponta como uma das regiões mais promissoras do hemisfério. Para o Brasil, isso significa não apenas uma janela de oportunidade, mas uma necessidade estratégica: desenvolver as novas fronteiras da Margem Equatorial brasileira e da Bacia do Pelotas é fundamental para garantir segurança energética e continuidade produtiva a longo prazo.

As bacias da Margem Equatorial brasileira compartilham características geológicas com as áreas onde recentes descobertas no Suriname e na Guiana vêm transformando o mapa energético regional. Trata-se de uma fronteira com potencial expressivo e ainda pouco testada. Já a Bacia do Pelotas, ao sul do país, constitui uma das últimas fronteiras marginais sub exploradas, com perspectivas promissoras à medida que novas tecnologias de sísmica e perfuração avançam.

Investir nessas regiões é garantir o futuro. A exploração em novas fronteiras permitirá ao Brasil manter a curva de produção estável diante do declínio natural dos campos maduros do pré-sal e de bacias tradicionais.

O desenvolvimento dessas áreas pode impulsionar a cadeia nacional de fornecedores, a inovação tecnológica e o fortalecimento do conteúdo local, gerando emprego qualificado e estimulando novos polos industriais costeiros.

Em um contexto global de volatilidade e transição, garantir reservas próprias é assegurar a soberania energética e a previsibilidade de oferta, pilares essenciais para o desenvolvimento econômico sustentável do país.

Para que essas oportunidades se concretizem, será preciso avançar em alguns pontos-chave:

• Aprimoramento regulatório e estabilidade contratual, com mecanismos que incentivem novos investimentos;
• Infraestrutura e logística compatíveis com operações em áreas remotas;
• Licenciamento ambiental eficiente e seguro, que combine rigor técnico e previsibilidade;
• Capacitação de pessoal e inovação tecnológica, consolidando o Brasil como referência em operação offshore sustentável.

O mundo atravessa uma transição energética que exige equilíbrio: é preciso reduzir emissões sem comprometer a segurança do abastecimento. Nesse contexto, o Brasil parte de uma posição privilegiada, com a matriz energética diversificada mais limpa entre as grandes economias, composta por cerca de 54% de fontes renováveis. No segmento de exploração e produção (E&P), o país também se destaca por apresentar os menores índices de emissão de gases de efeito estufa por barril produzido. Diante desse cenário, o Brasil tem uma oportunidade singular de transformar suas novas fronteiras exploratórias em vetores de crescimento, soberania e inovação sustentável.A recente perfuração no Suriname mostra que o movimento já começou. É hora de o Brasil acelerar, com políticas coordenadas, marcos regulatórios claros e engajamento de toda a cadeia produtiva, para que a Margem Equatorial e o Pelotas se tornem os novos motores da segurança energética nacional.

O desafio é grande, mas o potencial é ainda maior.
Cabe a nós, como setor e como país, garantir que essa oportunidade não passe ao largo.

Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, Presidente do Conselho da ONIP