ONIP Entrevista – João Correa, country manager da TGS no Brasil
Brasil: um “hotspot” global para exploração de petróleo
Dona da maior biblioteca sísmica do mundo e de uma frota de embarcações para aquisição de dados, a empresa norueguesa de pesquisa sísmica TGS enxerga o Brasil como um “hotspot” global para a exploração de petróleo.
“O potencial exploratório do Brasil é imenso. O país oferece uma atraente mistura de projetos em novas fronteiras, como a Margem Equatorial e a Bacia de Pelotas, e em bacias maduras como Campos e Santos, no sudeste”, explica João Correa, country manager da TGS no Brasil.
Em entrevista exclusiva ao site da ONIP, o executivo afirma que a descoberta no bloco de Bumerangue, feita pela BP, demonstra que o pré-sal brasileiro continua competitivo e relevante globalmente, aumentando o interesse pela região. Isso se reflete no próximo leilão da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), previsto para outubro, que ofertará blocos nas chamadas franjas do pré-sal, nas bacias de Santos e Campos.
Para Correa, a descoberta da BP não diminui o interesse das petroleiras por ativos em novas fronteiras.
“Existe um cenário de queda da produtividade no pré-sal, e as bacias de nova fronteira na Margem Equatorial e em Pelotas oferecem maior potencial para novas descobertas que possam repor e ampliar as reservas brasileiras”, avalia.
De que forma a pesquisa sísmica atua para impulsionar a exploração de petróleo?
A pesquisa sísmica é o primeiro elo da cadeia de produção de óleo e gás. Através dela, as empresas conseguem “enxergar” as camadas do subsolo, como se fosse um raio-x, utilizando ondas sonoras para criar imagens detalhadas das formações geológicas. Essa técnica ajuda a identificar as prováveis localizações de reservatórios de petróleo ou gás, funcionando como uma ultrassonografia do subsolo que revela potenciais reservatórios.
A TGS é uma empresa global de origem norueguesa que há anos participa de grandes projetos de exploração de petróleo nas Bacias de Campos e no pré-sal da Bacia de Santos. Atualmente, a empresa dispõe de mais de 500 mil quilômetros quadrados de dados 2D e 3D no Brasil, sendo mais de 30 mil quilômetros quadrados de dados apenas na Bacia de Pelotas.
Em 2023, concluimos a aquisição da PGS, o que resultou na formação de uma biblioteca sísmica global com dados de todas as bacias ativas nos hemisférios ocidental
e oriental. Com a aquisição, a empresa também incorporou ao seu portfólio uma frota de sete embarcações de aquisição de dados 3D.
O Brasil é um mercado importante para a sísmica?
Sim. A TGS considera o Brasil um “hotspot” global para a exploração de petróleo. O país está entre os três principais mercados da empresa e é, sem dúvida, um mercado estratégico.
O potencial exploratório do Brasil é imenso. O país oferece uma atraente mistura de projetos em novas fronteiras, como a Margem Equatorial — uma região no norte e nordeste do Brasil, ao longo da costa que se estende do Amapá ao Rio Grande do Norte, composta por cinco bacias sedimentares: Foz do Amazonas, Pará-Maranhão, Barreirinhas, Ceará e Potiguar — e a Bacia de Pelotas, na costa do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, além de bacias já consolidadas como Campos e Santos, no sudeste.
A descoberta anunciada pela BP, no pré-sal da Bacia de Santos, dá mais atratividade para a atratividade no Brasil?
Com certeza. A descoberta no bloco de Bumerangue, feita pela BP, demonstra que o pré-sal brasileiro continua competitivo e relevante globalmente, aumentando o interesse pela região no próximo leilão da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O evento, previsto para outubro, ofertará blocos nas chamadas franjas do pré-sal, nas bacias de Santos e Campos.
Serão leiloados 13 blocos exploratórios: Ágata, Amazonita, Ametista, Citrino, Esmeralda, Itaimbezinho, Jade, Jaspe, Larimar, Ônix, Safira Leste, Safira Oeste e Turmalina. Entre as empresas aptas a participar estão Petrobras, Shell, Chevron, TotalEnergies, Equinor, BP Energy, Petrogal, Petronas, Ecopetrol, Karoon, Qatar Energy, as chinesas Sinopec e CNOOC, além das brasileiras independentes Brava e Prio. Isso confirma o grande interesse no Brasil, que ainda tem muitas áreas promissoras na região.
A descoberta da BP, e esse novo leilão nas Bacias de Santos e Campos, reduz o interesse em novas fronteiras?
De forma alguma. Existe um cenário de queda da produtividade no pré-sal, e as bacias de nova fronteira, como a Margem Equatorial e a Bacia de Pelotas, oferecem um potencial maior para novas descobertas que podem repor e ampliar as reservas brasileiras.
Como está a pesquisa na Margem Equatorial?
A TGS tem coletado informações na região desde 2011, inicialmente na Bacia do Foz do Amazonas (ou Amapá Águas Profundas). A partir de 2023, o foco tem sido a Bacia Pará-Maranhão, onde foram realizados extensos levantamentos. Os trabalhos na Bacia Barreirinhas começarão em breve.
Os dados sísmicos coletados até agora na Margem Equatorial confirmam a existência de grandes estruturas com potencial para acumular hidrocarbonetos, similares em tamanho às encontradas na Guiana. Estimativas indicam um potencial de 20 bilhões a 30 bilhões de barris de petróleo na região.
E a Bacia de Pelotas?
A TGS está se preparando para iniciar os trabalhos na Bacia de Pelotas, no Sul do Brasil. A região é considerada uma nova fronteira de pesquisa devido ao conhecimento geológico ainda limitado sobre a área.
A Bacia de Pelotas é uma região de nova fronteira onde, até o momento, apenas dados sísmicos 2D foram coletados. A bacia representa uma aposta, principalmente para a Petrobras, que no ano passado assinou 26 contratos de concessão de áreas adquiridas em parceria com a Shell.
Além disso, em um consórcio com a Petrogal, a Petrobras arrematou três blocos na Bacia de Pelotas durante o 5º Ciclo da Oferta Permanente de Concessão, realizado em junho pela ANP.
Qual o principal aprendizado nessas regiões de novas fronteiras?
Com certeza, a transparência e o diálogo com a sociedade e as comunidades locais são fundamentais, assim como os projetos ambientais que desenvolvemos como condicionantes do licenciamento ambiental conduzido pelo Ibama para a pesquisa geológica.
A Margem Equatorial, por exemplo, no Norte e Nordeste do Brasil, abriga algumas das mais importantes reservas biológicas e biomas marinhos do país. A biodiversidade ao longo da extensa costa dessas regiões é uma das mais ricas do Brasil, tornando sua proteção e preservação cruciais.
Atualmente, contamos com parceiros ambientais do Amapá ao Ceará, que realizam o monitoramento das praias e atividades de conscientização e educação ambiental. Também apoiamos um grande número de pesquisas, que são importantes para construir e disseminar conhecimento, além de educar a sociedade sobre o meio ambiente dessas regiões, deixando um legado técnico-científico, de comunicação e de informação para as áreas.
Esse trabalho, já realizado na Margem Equatorial, será replicado na Bacia de Pelotas.
A TGS tem uma importante interlocução com o Ibama, que conduz o processo de licenciamento ambiental. Como isso aconteceu?
O trabalho da TGS hoje conta com o reconhecimento do Ibama e de outros stakeholders. Essa interlocução é resultado de muito diálogo e de importantes
parcerias ambientais que comprovam que a pesquisa e a exploração de petróleo não são incompatíveis com a preservação do meio ambiente.
Um exemplo disso são os novos projetos ambientais na Margem Equatorial. Lançamos, neste ano, um projeto de Conservação do Peixes-Boi no estado do Pará. O projeto foi idealizado após o Ibama identificar a necessidade urgente de sistematizar e otimizar o resgate desses animais na região.
O projeto oferece uma solução para a falta de estrutura operacional e os recursos limitados dedicados ao resgate, reabilitação, soltura e monitoramento pós-soltura desses mamíferos aquáticos, cuja população já apresenta sinais claros de declínio.
Esses projetos deixarão um legado inestimável de conhecimento científico, que é essencial para a preservação ambiental da região, e criam, para a indústria do petróleo, um ativo ambiental que será importante para as empresas que atuarão nessas novas fronteiras.