Entrevista ONIP – Luís de Mattos, RBNA Consult
“ONIP pode fortalecer o conteúdo local mapeando e promovendo fornecedores qualificados “
“O conteúdo local como essencial para fortalecer a economia brasileira, especialmente porque ele cria uma demanda estável para fornecedores locais, impulsionando emprego e investimento”, afirma Luís de Mattos, da RBNA Consult, maior certificadora de conteúdo nacional, 100% brasileira e que já emitiu mais de 45 mil certificados de conteúdo nacional.
Em entrevista exclusiva para o site da ONIP, Mattos fala sobre os mitos e
fatores que mais impactam diretamente o percentual de Conteúdo Local na certificação, as oportunidades para reforçar o conteúdo local com as
exigências ambientais e de descarbonização e sobre a importância da Organização.“A ONIP tem potencial para atuar como um hub estratégico para o setor. Ao conectar grandes empresas com fornecedores locais, ela ajuda a criar visibilidade, acesso a oportunidades e gera negócios mais sustentáveis. Ela pode fortalecer o conteúdo local ao mapear e promover fornecedores qualificados, além de orientar a indústria sobre como atender às exigências regulatórias”, avalia.
Qual a sua visão sobre a importância estratégica da manutenção e do fortalecimento das regras de conteúdo local para a economia brasileira e para o desenvolvimento sustentável da indústria nacional?
Eu vejo o conteúdo local como essencial para fortalecer a economia brasileira, especialmente porque ele cria uma demanda estável para fornecedores locais, impulsionando emprego e investimento. Isso acontece não só aqui, mas em praticamente todos os países produtores de petróleo do mundo. Noruega, Australia e até os Estados Unidos usam algum tipo de conteúdo local para fortalecer suas economias. O ponto chave é que no Brasil, diferente do que muitos imaginam, não é necessário que a empresa seja nacional; basta fabricar uma parte da produção por aqui, o que já gera um efeito econômico significativo, movimenta a cadeia produtiva e desenvolve fornecedores locais, contribuindo para a sustentabilidade econômica de longo prazo.
Na sua experiência, quais são os principais mitos ou desentendimentos mais frequentes em torno do tema do conteúdo local, e como eles podem ser esclarecidos para promover uma compreensão mais precisa?
Um dos grandes mitos é que conteúdo local dificulta ou impede o acesso a novas tecnologias. Na verdade, isso não acontece porque a regra brasileira não exige que o fornecedor seja uma empresa brasileira, apenas que parte do produto seja parcialmente fabricado no país. Ou seja, o projeto, a engenharia e a tecnologia podem vir de fora tranquilamente. Outro mito comum é dizer que conteúdo local gera ineficiência econômica, quando na realidade o que gera ineficiência são políticas mal desenhadas, pouco claras e que mudam constantemente. É importante explicar que um conteúdo local bem estruturado, transparente, estável e justo gera competitividade e inovação, não atraso.
Quais são os fatores que mais impactam diretamente o percentual de Conteúdo Local na certificação e quais os desafios mais comuns enfrentados pelas empresas nesse processo?
Um dos fatores que mais influencia diretamente o percentual de conteúdo local é a origem dos componentes utilizados. Quanto mais componentes forem produzidos no Brasil, maior o índice que se consegue alcançar. Outro aspecto essencial é ter uma rede estratégica de fornecedores locais bem estruturada. É fundamental que as empresas desenvolvam parcerias sólidas e de longo prazo com fornecedores locais que possam garantir não só disponibilidade, mas também qualidade e preço competitivo. O maior desafio é justamente desenvolver essa cadeia produtiva local robusta e integrada, para garantir que os componentes nacionais estejam sempre disponíveis para atender às necessidades dos grandes projetos.
De que forma as exigências ambientais e metas de descarbonização podem influenciar a aplicação e a efetividade das regras de conteúdo local, e como a indústria pode se adaptar para conciliar esses objetivos?
As exigências ambientais e de descarbonização têm potencial para reforçar ainda mais o conteúdo local. Um estudo recente que fizemos na Transpetro com o ENFORM usando inteligência artificial, por exemplo, mostrou que navios construídos no Brasil têm uma pegada de carbono menor comparados a navios importados. Ou seja, quanto maior o índice de conteúdo local, menor é a pegada de carbono. A indústria precisa enxergar isso como oportunidade e alinhar investimentos em produção local com tecnologias verdes. Adaptar-se significa integrar conteúdo local com estratégias sustentáveis, gerando não só benefícios econômicos, mas ambientais também.
Com o cenário de novos investimentos, especialmente por parte da Petrobras, há uma expectativa de aquecimento do mercado. Como a ONIP pode contribuir para garantir que esses novos investimentos se traduzam em um aumento significativo do conteúdo local, promovendo o desenvolvimento da cadeia de fornecedores e a geração de empregos no país?
A ONIP tem potencial para atuar como um hub estratégico para o setor. Ao conectar grandes empresas com fornecedores locais, ela ajuda a criar visibilidade, acesso a oportunidades e gera negócios mais sustentáveis. Ela pode fortalecer o conteúdo local ao mapear e promover fornecedores qualificados, além de orientar a indústria sobre como atender às exigências regulatórias. A ONIP, com sua capacidade de articulação, pode garantir que investimentos da Petrobras realmente sejam canalizados para desenvolver a cadeia local, fortalecendo a economia e impulsionando geração de empregos qualificados no Brasil.