Entrevista ONIP – Nelson Romano, Presidente da ABEMI

“Protagonismo político da ONIP, em conjunto com a ABEMI, pode ser um alavancador para a engenharia nacional”
Em entrevista exclusiva para a ONIP, Nelson Romano, presidente da Associação Brasileira de Engenharia Industrial (ABEMI), associada da Organização, fala sobre as prioridades de sua gestão, iniciada em março deste ano, os principais desafios que o setor de engenharia industrial enfrenta no Brasil e as estratégias para assegurar e ampliar a presença e a competitividade das empresas brasileiras de engenharia.
“Como ponto de partida, é relevante enfatizar que a empresa de engenharia nacional é capaz de atender aos requisitos necessários nas mesmas condições de qualquer empresa estrangeira, pelo menos com a mesma capacidade e competitividade”, afirma.
“O protagonismo político da ONIP, em conjunto com a ABEMI, pode ser um alavancador para a engenharia nacional, que é competente e competitiva”, destaca.
Sua gestão na ABEMI teve início em março de 2025. Quais são as prioridades da Associação na sua gestão?
A prioridade é consolidar o protagonismo da Associação, fortalecendo sua atuação e representação junto a órgãos públicos e privados, atuando na garantia dos direitos e prerrogativas de seus associados, buscando maior reconhecimento e influência no cenário em que atuam.
Quais os principais desafios que o setor de engenharia industrial no Brasil enfrenta hoje?
O setor enfrenta sérios desafios, talvez o maior deles sendo o desinteresse dos jovens pela carreira de engenharia. Atualmente, o país tem significativamente menos estudantes de engenharia do que há dez anos. Como a formação em engenharia proporciona conhecimentos diversificados em solução de problemas e sólida base em matemática, boa parte dos estudantes de engenharia opta pela carreira financeira. O resultado disso é uma carência cada vez maior de mão de obra qualificada, com uma perspectiva pouco animadora.
Na raiz do problema está a dificuldade estrutural que enfrentam as empresas de engenharia, construção e montagem, com ciclos de estagnação e de alta demanda em um ambiente regulatório complexo, com uma carga tributária muito elevada, taxas de juros extremamente altas e uma legislação trabalhista que carece de reformas urgentes.
O setor de petróleo e gás é vital para a engenharia industrial brasileira. Quais são as maiores preocupações da ABEMI em relação a este setor atualmente, e onde o senhor enxerga as principais oportunidades para as empresas associadas no cenário atual?
No setor de petróleo e gás, a maior preocupação para todos os brasileiros dedicados à área é a exploração da Margem Equatorial. As reservas da região Sudeste estão em declínio, e a realidade da transição energética indica que levará um tempo considerável para que a matriz energética global passe por mudanças substanciais. Em poucos anos, a produção de petróleo no Brasil corre o risco de sofrer reduções relevantes, o que comprometerá todo o setor produtivo, a cadeia de serviços e, consequentemente, a economia do país como um todo.
Não há dúvidas quanto aos cuidados ambientais necessários, mas é evidente para nossos técnicos que a questão ambiental não impede a exploração e produção. A exploração da Margem Equatorial é de suma importância para o país e representa uma das principais bandeiras da ABEMI na atual gestão.
A garantia da participação da engenharia nacional nos projetos do setor de petróleo e gás no Brasil é um tema recorrente. Que estratégias a ABEMI pretende adotar ou apoiar para assegurar e ampliar a presença e a competitividade das empresas brasileiras de engenharia nesses projetos?
Como ponto de partida, é relevante enfatizar que a empresa de engenharia nacional é capaz de atender aos requisitos necessários nas mesmas condições de qualquer empresa estrangeira, pelo menos com a mesma capacidade e competitividade.
A questão da participação da engenharia nacional no setor de petróleo e gás apresenta aspectos muito diferentes entre onshore e offshore.
Os projetos onshore são, em sua grande maioria, executados por epecistas nacionais. Isso resulta naturalmente na seleção de empresas brasileiras, não sendo, portanto, um tema que demande grande preocupação.
A questão offshore, entretanto, é bastante diferente, pois os projetos podem ser originados pela Petrobras, a grande demandante, ou por operadoras estrangeiras. As operadoras estrangeiras estão sujeitas apenas às exigências de conteúdo local da rodada envolvida, de modo que o conteúdo é atingido por equipamentos, serviços, pagamento de multas ou ambos, resultando em apenas complementos de engenharia para o Brasil. A esmagadora maioria dos projetos, no entanto, provém da demanda da Petrobras, seja na forma de afretamento, EPC ou BOT. No caso de afretamento, ocorre o mesmo que com outras operadoras, dependendo exclusivamente da empresa de engenharia conseguir convencer o afretador. Isso é muito difícil, pois normalmente ele é estrangeiro e trabalha com empresas com as quais já está habituado.
Nos casos de EPC e BOT, todavia, a participação nacional pode ser naturalmente maior.
Uma dificuldade do epecista ou estaleiro brasileiro para competir é a dimensão do empreendimento de uma plataforma, geralmente excedendo a capacidade financeira para a execução de uma plataforma inteira. Dessa forma, a participação de competidores nacionais em certames é, em geral, muito rara.
Assim, uma alternativa bastante discutida no mercado seria um fatiamento do empreendimento, nos moldes em que foram feitos os replicantes P-66 a P-71. Nesse modelo, os diversos módulos foram distribuídos, permitindo a entrada de epecistas e estaleiros brasileiros que, então, contratam empresas de engenharia local. Isso depende, entretanto, da decisão de quem contrata e se a experiência com o modelo foi satisfatória ou não.
Em resumo, dentro da modelagem existente, a ABEMI estará apoiando, junto com outras associações, iniciativas de conteúdo local e mecanismos de participação de epecistas e estaleiros nacionais.
A ONIP desempenha um papel importante na indústria de petróleo e gás. Qual a sua percepção sobre o papel da Organização e quais as parcerias que podem ser alinhadas com a ABEMI em prol da engenharia nacional?
Como dito anteriormente, embora presente em quase todos os países, o conteúdo local se tornou um tema quase obsceno no Brasil. No entanto, dada a estrutura de como as compras de plataformas são realizadas, ele se mostra a melhor forma de estimular a participação da engenharia local, beneficiando indiretamente toda a cadeia de fornecedores.
Assim, o protagonismo político da ONIP, em conjunto com a ABEMI, pode ser um alavancador para a engenharia nacional, que é competente e competitiva.