ENTREVISTA ONIP – José Velloso, Presidente Executivo da ABIMAQ/SINDIMAQ

“ONIP pode harmonizar demandas dos diversos segmentos da economia”
A indústria está pronta para contribuir. A afirmação é de José Velloso, Presidente Executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ)/Sindicato Nacional da Indústria de Máquinas (SINDIMAQ), entidade fundadora e associada à Organização Nacional da Indústria do Petróleo (ONIP).
“Como já demonstrado no passado, a indústria nacional sempre respondeu com presteza e competência às demandas, pois, no período próximo ao final do monopólio da Petrobras, chegou a fornecer mais de 80% das necessidades da Petrobras “, afirma o executivo, em entrevista exclusiva à ONIP.
Segundo Velloso, a ABIMAQ está otimista e tem buscado adequar sua estrutura de modo a maximizar o aproveitamento dessas demandas em prol do desenvolvimento de suas associadas.
Na entrevista, o executivo destaca o papel da Organização como importante fórum de articulação entre os diversos atores envolvidos.
“A ONIP tem a possibilidade de harmonizar demandas dos diversos segmentos da economia”, afirma.
Considerando a demanda da indústria do petróleo, qual a avaliação da Abimaq sobre a contribuição atual e o potencial futuro do setor de máquinas e equipamentos para o desenvolvimento e a eficiência da cadeia produtiva de óleo e gás no Brasil?
Desde o começo de suas operações, ainda na década de 1960, a Petrobras sentiu a necessidade de desenvolver uma rede de fornecedores próximos de modo a garantir sua continuidade operacional e, ao mesmo tempo, diminuir a dependência de máquinas e equipamentos estrangeiros.
No início, seu foco foi na substituição de partes, peças e componentes importados para as reposições nas atividades de operação, mas, logo em seguida, adicionou também a preocupação quanto aos itens importados para novos investimentos.
Com essa atuação, a Petrobras, em conjunto com empresários brasileiros de bens e serviço, conseguiu, em menos de uma década, dispor de um parque industrial de bens de capital local sólido e devidamente capacitado para atendê-la. Essa experiência demonstrou que a indústria brasileira tem potencial para, em curto período, atender às necessidades da indústria de óleo e gás.
O aproveitamento das demandas do Setor para aquecer o mercado supridor interno, devido aos valores envolvidos e diversidade de itens, é importante ferramenta para o desenvolvimento nacional.
Como já demonstrado no passado, a indústria nacional sempre respondeu com presteza e competência às demandas, pois, no período próximo ao final do monopólio da Petrobras, chegou a fornecer mais de 80% das necessidades da Petrobras.
Adicionalmente, o aproveitamento das demandas das companhias de petróleo no desenvolvimento da indústria local possibilita o desenvolvimento de tecnologia, das empresas de engenharia e de construção e montagens, contribuindo ainda para, com a economia de escala obtida, tornar a indústria nacional mais competitiva em outros segmentos da economia.
Por sua vez, a existência de um arranjo produtivo local adequado, permite significativa redução de custos operacionais das companhias de petróleo, reduzindo tempos de paradas e os valores imobilizados em estoques de partes, peças e componentes.
Resumindo, ao não dispor de uma política adequada para aproveitar as demandas do Setor de Petróleo e Gás em prol do desenvolvimento nacional, o Brasil perde excelente oportunidade para a geração de emprego e renda locais, fatores primários para o desenvolvimento de um país. A indústria está pronta para contribuir.
A ABIMAQ é uma das fundadoras da ONIP. Como a Associação enxerga a importância da Organização para o momento atual e futuro do setor?
A necessidade de existência de uma entidade como a ONIP começou a ser sentida a partir do fim do monopólio, anteriormente exercido pela Petrobras. Antes da entrada em vigor da Lei 9478/1987, como a Petrobras era a única demandante no país,
cabia a ela, por sua conta, desenvolver uma base de fornecimento de bens e serviços próxima, confiável e devidamente capacitada, o que fez com comprovada eficácia.
Com a entrada no mercado de novos demandantes, surgiu a necessidade de o país dispor de algo que viesse ocupar o “vácuo” deixado pela Petrobras.
Foi assim que, com base em diferentes modelos utilizados em outros países, onde o mercado de petróleo e gás era aberto, as entidades de classe, juntamente com o governo e a própria Petrobras, instituíram a ONIP e a Abimaq era umas daquelas entidades.
A ONIP tem um importante papel como fórum de articulação entre os diversos atores envolvidos. Diferente de uma associação de classe que tem como atribuição principal atender às demandas específicas de suas associadas, uma entidade como a ONIP, tem a possibilidade de harmonizar as diversas demandas dos diversos segmentos da economia, e, dessa forma, buscar o melhor resultado para o todo.
Sua configuração atual, onde os interesses conflitantes são bem menores do que os comuns, aumenta a probabilidade de obtermos melhores resultados.
Na perspectiva da Abimaq, quais são os principais desafios e oportunidades para as empresas do setor de máquinas e equipamentos que desejam fornecer bens e serviços para a indústria do petróleo e gás no Brasil?
Podemos dividir os principais desafios e oportunidades para a indústria de máquinas e equipamentos em três grandes grupos: aqueles que estão fora do poder de decisão das empresas (onde o Repetro e o custo Brasil são exemplos), aqueles que dependem de decisões empresariais (que necessitam de informação e motivação) e os que podem ser resolvidos com o relacionamento comprador-vendedor, tais como especificações, cláusulas contratuais, entre outros.
Assim, assuntos como ações do executivo e legislativo, capacitação de empresas e profissionais, informação e atuação em feiras e congressos podem ser otimizados utilizando a sinergia obtida pelo relacionamento direto e organizado envolvendo entidades associadas viabilizada pela presença no Conselho da ONIP.
Diante do cenário atual de transições energéticas e novas energias, como a Abimaq percebe a adaptação das empresas brasileiras a essas mudanças?
De uma maneira bem direta, a transição energética oferece um significativo leque de oportunidades para a indústria fornecedora de máquinas e equipamentos.
Com poucas exceções, os bens utilizados nas fontes de energia que estão aumentando participação relativa nas Matrizes Energéticas Nacional e Mundial são praticamente os mesmos utilizados na indústria de petróleo e gás.
Desse modo, as demandas devem aumentar, devem se tornar mais diversificadas, melhor distribuídas geograficamente e com um aumento significativo de atores quando tratamos de outras fontes, como é o caso da biomassa, que incorpora ao setor de energia, boa parte de nossa agroindústria.
Cabe lembrar que a população do mundo deve crescer 20% até 2040 e essas pessoas vão demandar mais energia. Boa parte da população atual deve elevar seu nível de consumo, e ainda estão chegando novos demandantes, como os datacenters.
Logo, a Abimaq está otimista e tem buscado adequar sua estrutura de modo a maximizar o aproveitamento dessas demandas em prol do desenvolvimento de suas associadas.