Entrevista ONIP – Ariovaldo Rocha, Presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (SINAVAL)

“Parceria entre SINAVAL e ONIP é fundamental para fortalecer indústria naval brasileira “

A parceria entre o SINAVAL e a ONIP é fundamental para fortalecer a indústria naval brasileira. A afirmação é de Ariovaldo Rocha, presidente do Presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (SINAVAL), sindicato associado, desde fevereiro, à Organização Nacional da Industria do Petróleo (ONIP).

“A ONIP tem um papel estratégico na integração entre o setor naval e a cadeia produtiva do petróleo e gás, facilitando o diálogo com grandes operadores e promovendo oportunidades para os estaleiros nacionais”, explica, em entrevista exclusiva para o site da ONIP.

Na entrevista, o presidente do SINAVAL fala da contribuição da indústria naval para o desenvolvimento do país, o cenário atual e os eixos de atuação do sindicato, que representa os principais estaleiros brasileiros, tanto de construção como de reparação naval e offshore.

A indústria naval brasileira tem uma tradição e uma contribuição marcante no desenvolvimento do país. Poderia resgatar alguns números e marcos dessa história?

A indústria naval brasileira tem um histórico de relevância estratégica para o desenvolvimento do país, especialmente a partir da década de 1950, quando houve incentivos significativos à construção naval. O auge ocorreu entre os anos 1970 e 1980, quando o Brasil chegou a ter a segunda maior carteira de encomendas da indústria naval do mundo, empregando cerca de 40 mil trabalhadores e produzindo grandes embarcações para uso comercial e militar.

Nos anos 2000, com a redescoberta do pré-sal e a política de conteúdo local, o setor experimentou um novo crescimento exponencial. Entre 2003 e 2014, mais de 500 embarcações foram construídas, incluindo navios petroleiros, plataformas offshore e embarcações de apoio marítimo, empregando mais de 82 mil trabalhadores diretos.

A indústria naval também desempenha um papel essencial para garantir a soberania nacional, ajudando a produzir e a escoar o nosso petróleo, na logística, com a construção de rebocadores, barcaças e empurradores que garantem o transporte eficiente de cargas nos rios e na costa brasileira. Além disso, temos uma tradição na construção de embarcações de pesca e lazer, contribuindo para o setor produtivo e turístico do país.

E qual o cenário atual?

Após o crescimento significativo da década de 2000, a indústria naval brasileira passou por uma crise severa a partir de 2015, impactada pela queda dos investimentos da Petrobras, pelo encerramento de políticas públicas de incentivo e pela concorrência internacional desleal. Esse cenário levou ao fechamento de vários estaleiros e à perda de dezenas de milhares de postos de trabalho qualificados.

Atualmente, o setor opera com uma capacidade instalada muito abaixo de seu potencial. Temos estaleiros prontos para produzir e atender às demandas nacionais, mas ainda enfrentamos desafios como a falta de previsibilidade de encomendas, dificuldades de acesso a financiamento competitivo e políticas públicas inconsistentes. No entanto, algumas oportunidades começam a surgir, como a demanda por FPSOs e seus módulos, além da renovação da frota de embarcações de apoio offshore e dos navios da Transpetro.

O SINAVAL tem trabalhado junto com Governo Federal e outras entidades, como a ONIP, para consolidar essas oportunidades e reverter o cenário atual, promovendo a reconstrução de um ambiente de negócios sustentável para a indústria naval brasileira.

O que é preciso para mudar esse cenário?

Para que a indústria naval brasileira volte a ser sustentável e competitiva, algumas medidas estruturantes precisam ser adotadas. É importante termos uma Política de Estado para o setor. Nesse sentido, o SINAVAL está participando do Grupo Executivo de Defesa da Indústria Naval, liderado pelo MDIC, com o objetivo de construir uma política de Estado de longo prazo para a construção e reparação naval. Essa política deve trazer previsibilidade de demandas, acesso a financiamento e incentivos à competitividade da indústria nacional. 

É fundamental termos, no país, uma demanda estruturada e previsível. A indústria naval precisa de previsibilidade para investir e crescer. O Brasil tem uma demanda natural por embarcações para diferentes setores, como a necessidade de novos navios para cabotagem e apoio offshore e o crescimento do transporte hidroviário. É fundamental que essas demandas sejam estruturadas e incentivadas.

Igualmente importante é termos regras claras para conteúdo local e competitividade. Precisamos estabelecer regras equilibradas de conteúdo local que garantam a participação da indústria nacional de forma sustentável, sem comprometer prazos e custos dos projetos. Nossa proposta em conjunto com a ABIMAQ e a ABEMI é fixar o conteúdo local em lei e separar em 3 grandes grupos: Engenharia; Construção e Montagem; e Máquinas e Equipamentos. 

No que diz respeito ao financiamento, precisamos de ações para a redução da taxa de juros, ampliação do tempo de carência e antecipação de fluxo de caixa no Fundo de Marinha Mercante. 

Poderíamos ainda da criação de um novo Fundo Garantidor para o setor semelhante ao Fundo Garantidor da Construção Naval. Necessidade de garantias, afetando a participação da indústria nacional globalmente e inviabilizando as contratações dos recentes editais de embarcações de apoio marítimo da Petrobras. 

Por fim, precisamos garantir que o Decreto de regulamentação da Lei da BR do Mar inclua condições que garantam que parte da frota da Transpetro seja de bandeira brasileira e construída no Brasil. 

Como é pautada, hoje, a atuação do SINAVAL? Que estaleiros representa?

O SINAVAL representa os principais estaleiros brasileiros, tanto de construção como de reparação naval e offshore. A atuação do Sindicato é pautada em três eixos principais: a Defesa do setor – trabalhamos junto ao Governo e aos demais stakeholders para desenvolver políticas públicas que garantam um ambiente de negócios favorável para os estaleiros brasileiros; a Promoção de oportunidades – buscamos conectar demandas nacionais e internacionais com a capacidade instalada dos estaleiros, promovendo eventos, rodadas de negócios e missões empresariais – ; e o Fomento à competitividade – atuamos para fortalecer a indústria naval nacional, incentivando investimentos, inovação e qualificação da mão de obra.

Os estaleiros representados pelo SINAVAL abrangem todas as regiões do Brasil e atuam na construção e reparação para 13 diferentes segmentos do mercado: Offshore; Navios de apoio marítimo; Petroleiros e navios de produtos; Porta-contêineres; ATB (Articulated Tug & Barge); Graneleiros; Barcaças e empurradores – navegação interior; Rebocadores portuários; Embarcações militares; Navios para navegação interior – passageiros; Construção náutica – iates e lanchas; Reparação naval; e Bunkers – para abastecimento de navios.

Qual a importância da associação com a ONIP? Que papel a Organização pode desempenhar em apoio à indústria naval brasileira?

A parceria entre o SINAVAL e a ONIP é fundamental para fortalecer a indústria naval brasileira. A ONIP tem um papel estratégico na integração entre o setor naval e a cadeia produtiva do petróleo e gás, facilitando o diálogo com grandes operadores e promovendo oportunidades para os estaleiros nacionais.

A ONIP pode contribuir significativamente por meio do mapeamento de oportunidades de negócios, garantindo que a demanda da indústria de petróleo e gás seja melhor aproveitada pelos estaleiros nacionais; do apoio na construção de uma política de Estado para a indústria naval, ajudando a articular as necessidades do setor junto aos órgãos governamentais e empresas operadoras; e no fomento à inovação e qualificação, promovendo iniciativas que aumentem a competitividade da indústria naval brasileira.

Acreditamos que a atuação conjunta do SINAVAL com a ONIP é essencial para garantir que o Brasil aproveite todo o seu potencial no setor naval, gerando emprego, renda e desenvolvimento econômico sustentável.