ESPECIAL: ONIP ressurge para tentar repetir `boom´ da indústria de óleo e gás

“Estamos resgatando os antigos associados, e também trabalhando as pautas prioritárias para o setor. Então, por exemplo, a exploração da Margem Equatorial é fundamental, e também a parte do gás natural é importante para a transição energética e o conteúdo nacional”, avaliou.

ESPECIAL: ONIP ressurge para tentar repetir `boom´ da indústria de óleo e gás
Por Denise Luna

Rio, 19/03/2025 – Os fornecedores da Petrobras já estão preparados para atender a chuva de licitações do plano de US$ 111 bilhões da estatal – dos quais US$ 98 bilhões já foram sancionados, ou seja, garantidos -, mas a mão de obra continua sendo um gargalo para o setor. Mesmo assim, o clima é de otimismo, diante da certeza da maior vigilância do cumprimento do conteúdo nacional pelo atual governo, o que não acontecia na gestão anterior.

Para conduzir a empreitada, a Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), entidade criada logo após a abertura do setor, em 1999, está sendo reativada. Para reerguer a entidade foi convocada Cynthia Silveira, executiva que já foi diretora de gás da TotalEnergies no Brasil, diretora-presidente da TBG, diretora-executiva do IBP e que já foi membro do Conselho de Administração da Petrobras.

Ao Broadcast, Cynthia contou que a Onip estava “quase hibernada” dentro da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) quando assumiu o cargo de diretora-geral, no final de 2023. “Ela (Onip) estava praticamente dedicada à defesa do setor onshore (em terra) por causa dos desinvestimentos (da Petrobras), várias empresas surgiram para essa exploração onshore. E quando mudou o governo e veio essa necessidade de fortalecer a Onip, me chamaram para ela voltar a funcionar fora da Firjan”, explicou.

Agora, com um Plano de Negócios bilionário no horizonte de cinco anos da maior petroleira do País, as oportunidades começam a voltar com força, segundo a executiva. Ela torce para o início da exploração na Margem Equatorial brasileira, o que deve impulsionar ainda mais a indústria. Reconhece, porém, que o que já está na mesa é suficiente para dar segurança e previsibilidade aos fornecedores. A equipe da Onip ainda é pequena, e até o momento apenas 10 associados mantém a entidade, a maior parte associações setoriais dos estados produtores de petróleo e gás natural. O Sinaval, que representa a indústria naval, foi uma das mais recentes adesões.

“Estamos resgatando os antigos associados, e também trabalhando as pautas prioritárias para o setor. Então, por exemplo, a exploração da Margem Equatorial é fundamental, e também a parte do gás natural é importante para a transição energética e o conteúdo nacional”, avaliou.

Para ela, a indústria precisa ser convidada a participar das grandes licitações da estatal, e que tenha condições de competir com os estaleiros orientais, como acesso a financiamento. “Somente um estaleiro em Singapura está construindo cinco plataformas para a Petrobras, é disso que a indústria nacional precisa”, disse, lembrando que o segmento nacional já fez plataformas no passado, mas hoje o cenário é diferente.

“O Brasil não tem condição de fazer casco, tem que fazer na China, na Coréia, mas pode fazer a integração. Fazendo o máximo de integração de módulos no Brasil, você dá maior oportunidade para a indústria nacional”, ressaltou.

Segundo ela, pelo menos dois estaleiros no Brasil estão funcionando a pleno vapor, Brasfel e Jurong, “que estão ‘overload’ (sobrecarregados) com cinco plataformas da estatal, mas o conteúdo nacional gira em torno dos 20%/25%, contra a ambição de atingir 40% da entidade. Duas questões importantes, como o financiamento para os projetos e o prazo para o pagamento dos fornecedores, que antes era de 120 dias e foi reduzido para viabilizar a construção das unidades foram conseguidos após reuniões com a estatal. Outro gargalo, a questão das garantias, está sendo discutida com a empresa, informou Cynthia.